domingo, 4 de novembro de 2007

III- Terceiro Tipo: a Culpa Neurótica

Agora deu para entender porque deixar esta parte por último; de certa forma já falei de algumas anomalias no assunto culpa. A culpa neurótica, em primeiro lugar, é a que não existe e assim mesmo é cobrada por nós mesmos, atuando muito contra nossa auto-estima e atrapalhando nossa vida no dia-a-dia. O fato de não existir e assim mesmo ser cobrada, não significa que seja apenas de nossa invenção. Pode muito bem ser a culpa imputada por terceiros, pode ser resultado da existência anterior de uma culpa real, exercício de nosso julgamento próprio. O que mais caracteriza a neurótica, no entanto, não é o fato de existir ou não algum fundamento, mas o de tornar-se uma obsessão, fora dos padrões normais de auto-cobranca, tanto quanto à qualidade desta cobrança quanto à quantidade de tempo que perdura.

É muito comum nas pessoas que são perfeccionistas, pois se cobram muito. Estão sempre aquém de seu alvo de perfeição. Todas as desculpas, todas as orações, tudo que se faça não retira a culpa e geralmente acaba por nortear a vida de forma triste. Autocomiseração, auto-estima baixa, vontade de castigar a si mesmo, até de suicidar-se, tudo isto pode ser conseqüência da culpa neurótica. O melhor é buscar ajuda de um profissional e analisar o todo de sua vida, refazendo sua historia e revendo os passos onde foi se formando este tipo de atitude que acabou por ser tão dominante em sua vida.

Ás vezes lidamos com uma culpa real por muito tempo e sabemos que verdadeiramente erramos e, se não procuramos um meio de nos sentirmos perdoados, essa culpa persistirá. Ela não é neurótica por isto. Mas talvez comecemos a nos culpar, a partir dela, de forma muito fora do normal. Por exemplo, se demos uma má resposta a alguém, nos culpamos como se o tivesse matado e isto é um problema de personalidade que deve ser tratado. Por outro lado, por exemplo, digamos que fizemos algo errado e ninguém sabe, somente eu e Deus. Então me corrijo e peço perdão a Deus, até mesmo fazendo o possível para corrigir o erro, se prejudicou a terceiros. Deveria cessar ali o sentimento de culpa. Muitas pessoas não conseguem perdoar a si mesmas, ou, se crêem em Deus, não crêem o suficiente para saber que Ele não mente, e se deixou escrito que perdoaria a todo que se arrependesse de fato e deixasse seu andar errôneo, não vai agir de outra forma. Se o sentimento persiste, mesmo assim, ele já não é mais real, mesmo tendo uma base real.

Temor da conseqüência e culpa são duas coisas diferentes.

Pode ser que você já tenha se perdoado e tenha um novo propósito na vida. Não sente culpa real nem irreal. Já fez as pazes com Deus e com o próximo; já restituiu ou iniciou a restituição, se não pode ser feita logo. Deveria estar em paz consigo mesmo, mas não consegue paz total. Pode ser que você esteja com o natural temor do castigo ou da sanção da justiça.

Se este temor é de ser castigado por Deus, então não tem conhecido o caráter bondoso e perdoador de Deus. Lembremos que Jesus disse: “eu vim para que tenham vida e a tenham em abundancia.” Mas, se o temor é de ser condenado na justiça comum, troque o temor pela luta honesta em tentar usar tudo que a lei possibilitar para ajudar-se e depois de tendo feito tudo, descanse, pois a conseqüência que tiver ainda que não pode ser evitada é como uma doença que chegou. De cabeça erguida enfrente a situação e viva.

Se estiver com medo de alguma enfermidade, faça os exames, enfrente e depois viva em paz.

Se estiver com medo dos homens e sua injustiça, se vê que não há misericórdia, lembre que é assim com a maior parte, nas mãos dos criminosos, dos falsos moralistas, dos corruptos e é algo que existe no mundo real, não podemos deixar de sofrer suas conseqüências, mas podemos, dentro do que for possível a nós e nossa consciência, lutar para atenuar estas conseqüências e nos engajar no alvo de lutar contra esta corrupção de alguma maneira, fazendo uma pequenina parte, seja qual for que consigamos fazer.

Se acha que será reincidente, não tendo forças para sair do tráfico, da promiscuidade ou da corrupção de colarinho branco, sabendo que assim não se livrará da culpa também, procure ajuda; olhe ao seu lado, sempre há onde buscar ajuda, nós é que não vemos; sempre há portas abertas, sempre há uma esperança!

Quanto a persistir a culpa neurótica, caso você, enfim, não pode mesmo procurar psicoterapia, então faça pelo menos o seguinte:

1. Tome conta de que há fatores reais e outros não reais no aspecto da culpa.
2. Procure seguir os passos que foram sugeridos nos outros dois tipos de culpa.
3. Separe o sentimento de culpa do temor da conseqüência, são duas coisas diferentes. Dê nome aos bois, escreva.
4. Se possível tenha um diário onde escreva o que é e não é real para você. E releia sempre.
5. Escreva seus sonhos e depois de algum tempo tente relê-los e analisar o que tem ali de comum, que pode ajudar na visão do todo de sua vida.
6. Se você chegou até aqui é porque gosta de ler; compre outros livros, leia.


Mas lembre-se:

A- O tratamento da culpa real é a busca do perdão.
B- O tratamento da culpa imputada por outros é a libertação do olhar do outro.
C- O tratamento da culpa neurótica é a psicoterapia.

Depois não diga que não avisei.

Felicidades.

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