domingo, 4 de novembro de 2007

Introdução

Escrevo este pequeno opúsculo como psicanalista. Este assunto nos obriga, no entanto, a falar em religião, e sou Cristão, também. Em meu consultório levo muito sério a confissão religiosa do paciente, não buscando convertê-lo (ou pervertê-lo), mas usar suas crenças de modo positivo, levando-o a repensar em cima dos fundamentos básicos de sua fé.
Uma das razões de escrever de um modo mediador e pacificador é exatamente porque este pequenino trabalho não visa a discutir as teorias da psicanálise e sim ajudar a quem não pode ou não deseja ir ao psicanalista, o que seria melhor que ler o livrinho, claro.

Freud e o Cristianismo

Há vários equívocos sobre as teorias e os métodos terapêuticos de Freud. Que ele tinha lá sua arenga com Deus, um problema não resolvido com o pai, ou com o princípio de autoridade e se se dizia ateu, não quer dizer que verdadeiramente não contribuiu com a humanidade. E é exatamente partindo da psicanálise, não apenas em Freud, mas já tão desenvolvida em outros autores, que devemos iniciar nosso estudo sobre a culpa e dar contribuição para esclarecer os meandros psicológicos da mesma.

O mais interessante da psicanálise é que chegou à mesma conclusão que a religião cristã, no que diz respeito ao que mais perturba a humanidade: o sentimento de culpa. Sem importar aqui como ambos - religião e psicanálise- explicam a gênese deste problema, o mais importante é que a ciência da alma diagnosticou acertadamente e é claro que não é o único sintoma da alma humana. Agora, a solução é que veio causar muita discordância entre os teólogos e psicanalistas. A religião cristã no mais básico e em seus princípios, exauridos de Cristo, lendo o seu sermão do monte ou outras partes de sua atuação e pregação (deixando de lado os dogmas posteriores dos diversos ramos do cristianismo), oferece, não uma série de penitencias e castigos que deveriam ser oferecidos a Deus como pagamento pelo pecado, mas a simples aceitação gratuita do perdão, exigindo que o perdoado tenha realmente se arrependido e decidido lutar para não pecar mais.No entanto, oferece ajuda até para quem tem dificuldade no próprio arrependimento. Jesus disse à mulher pega em adultério “vai e não peques mais,” e seus irmãos religiosos desejavam matá-la apedrejada. A terapia de Jesus é de retirar a carga do oprimido e não colocar mais: “vinde a mim, vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei; tomai sobre vós o meu jugo, porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. Esta terapia de Jesus é, portanto, de quem sofre com o sofredor, isto é, tem com-paixão, pois diz para tomarem seu jugo. Quando Jesus disse isto, é bem provável que estivesse passando uma junta de bois com a canga, ou jugo, unindo os dois. O boi mais velho e mais forte, sendo mais manso e obediente, era colocado com o mais novo e ainda rebelde, para que, na sua força, guiasse o mais novo. E Jesus está dizendo: “coloquem sobre vocês a minha canga e não a dos fariseus; a minha é leve e eu estarei com vocês guiando-os gentilmente e com amor e ternura. Esta é a natureza do meu perdão.”

Por mais que critiquem a psicanálise, vemos que ela tenta colocar a canga mais leve possível também. Ela não pode resolver o problema da culpa moral e espiritual, pois o homem precisa sentir-se perdoado pela sociedade, pelo próximo e por Deus, quando crê nÊle. Mas todas as manifestações neuróticas da culpa, todas as maneiras errôneas de lidar com ela, todas as desvirtuadas pregações sobre a mesma, fruto dos defeitos de nossa personalidade, podem e devem ser alvo de psicoterapia.

Os Vários Tipos de Culpa

Três principais tipos logo vêm em nossa mente: a culpa real, a imputada por terceiros e a neurótica. Devemos citar rapidamente os primeiros tipos até chegarmos à neurótica, porque todas elas poderão desencadear a última.

I- Primeiro Tipo de Culpa: O Olhar do (abelhudo) Outro

Um dos motivos de surgir em nós sentimentos de culpa é a denúncia ou calúnia que atinja nossa reputação. Coisa triste é o olhar do outro quando vem cheio de crítica, de vingança, de busca de erros. Alguém já disse que quando um dedo está apontando para o próximo, existe outro (polegar) apontando para Deus, o verdadeiro juiz, e mais três apontando para nós mesmos. Sabemos que o princípio religioso e ético deixado por Cristo é importante e essencial: “não julgueis para não serdes julgados.” Do ponto de vista da ética, não existem meios de viver neste mundo sem julgar o outro, mas este julgamento ético de que falamos é aquele instinto natural de comparar o que o outro faz com o que eu faria ou com o que a maior parte das pessoas fariam. Por exemplo, se vejo alguém andando desnudo em plena avenida logo penso que não faria isto e de certa forma estou buscando dentro de mim mesmo os parâmetros para ver se é certo ou errado. Mas, quando Jesus falou que não deveríamos julgar uns aos outros, creio que estava dizendo que não deveríamos externalizar nosso conceito pessoal – o qual existe para mim mesmo- em palavras condenatórias contra o próximo. Durante quase cinco anos lecionando Ética em uma faculdade, no Recife, sempre gostava de repetir aos alunos cristãos: “Lembrem-se, quem acusa é o diabo (diabalos, acusador) e quem julga (condena) é Deus!”

Escravos do olhar dos outros

Temer demasiadamente o olhar do outro já é um passo a um estado doentio da personalidade, pois vamos tolhendo nossa maneira de agir, nosso dia-a-dia; quando adolescentes deixamo-nos levar até mesmo a carreiras profissionais, isto é, tomamos rumos na vida por causa dos outros, com medo do que vão falar ou pensar de nós. Isto é escravidão. Quantas pessoas deixam de fazer tantas coisas que sabem ser lícitas porque têm medo do olhar dos outros? O maior exemplo na história de alguém que era liberto totalmente do olhar do outro estava em Jesus: o que precisava fazer fazia sem se importar com os que tomavam para si mesmos o escândalo que na verdade não existia na pessoa de Jesus. Tanto faz se estivesse com os nobres, ou bebendo um bom vinho junto a um pecador, ou deixando aproximar de si uma prostituta chorosa. Fazia sua obra sem temer o que iriam pensar as más mentes. Mas, porque conseguia fazer isto? Porque se baseava na convicção de seu caráter e não na possível transformação de sua reputação.

A reputação é o que os outros pensam de nós, mas o caráter o que somos e é através do caráter que vamos prestar espiritualmente contas do que precisar prestar e a quem de direito.

Estes seres nojentos que vigiam nossa reputação não podem ver a intenção que existe em nós; e a culpa, quando for necessário lidar com ela, quando realmente existe, está na dimensão de nossa intenção interna, pois se a reputação fala da falha que comentemos na qualidade de nosso viver, o caráter mostra para nós mesmos (porque quem nos conhece mais que nós mesmos é somente Deus) se de fato erramos ou não na intenção.

A libertação do olhar do outro.

Já será uma ação preventiva, pois, libertar-se do olhar do outro, pelo menos fazendo o seguinte:
Viva a vida com ternura; primeiro para com você mesmo, depois com o próximo.

Procure agir com convicção, se for preciso reconsidere sua vida e refaça seus princípios, mas aja com convicção, sem trair a si mesmo, tomando cuidado para não possuir uma intenção diferente do que acha correto.

Baseado em seu caráter, siga o melhor caminho, o que de maior prazer, desde que seja equilibrado com a responsabilidade pessoal e perante a sociedade.

Não se preocupe tanto com a reputação. Você não poderá amarrar a boca mentirosa dos outros, nem vendar seus olhos nojentos. Preocupe com seu caráter, o que você realmente é.

Saiba que agindo corretamente com a consciência, nem sempre terá a mesma oportunidade financeira, de poder e status como os politiqueiros hipócritas e hienas sórdidas da vida. Mas terá muito mais riqueza moral e espiritual, pois melhor é SER que TER.

Dentro do mapa do que é lícito para você mesmo, dentro de sua consciência, aproveite a vida e siga o caminho que desejar, buscando o que é mais nobre que for possível.

Quando se visualizar andando pela vida, veja a você mesmo olhando o alvo à frente e não olhando os que estão ao lado. Seja como o leão no zoológico que, mesmo tendo centenas de pessoas olhando para ele, não está nem aí, nunca perdeu sua majestade. E você pode ir mais avante ainda: mesmo tendo naturalmente que aceitar certas limitações que a vida nos impõe, tem seu espírito livre, você pertence a você mesmo.

Procure ter boa reputação, claro! Mas ande olhando o horizonte e o caminho traçado por seu caráter e sua intenção, que deve ser boa, obviamente. Não ande olhando a reputação que ficou lá atrás; olhar a reputação é olhar para trás, é retroceder, é ver as hienas se digladiando sobre a capa que já revestiu você ontem, mas não podem alcançar a que reveste você hoje. E mesmo que retirassem todas as capas, deixando-o nu não enxergam além de sua pele, isto é, não podem alcançar nem destruir o que você é de fato.

II- Segundo Tipo de Culpa: Relacionada Com o Princípio Direcionador

Por outro lado, existe ainda o segundo tipo de culpa, que acontece em nós porque temos um princípio direcionador em nossas consciências. Este princípio, que foi chamado por Freud de Super Ego, pode errar, inclusive, ou ser enganado por nós mesmos. Somos falhos como seres humanos e nem sempre o que pensamos ser culpa real é mesmo. E às vezes tentamos racionalizar e nos convencer que uma culpa real não o é. Isto acontece porque temos necessidades que se manifestam em desejos os mais diferentes e o ego tenta resolver o problema, como uma mãe que tenta fazer a criança parar de chorar e serviria fazer uso de qualquer coisa se não fosse o sentido de direcionamento. Não pode dar a mamadeira velha, pode fazer mal ao chorãozinho impaciente. Mas, se num impulso de raiva a mamadeira velha é dada, logo em seguida vem o sentimento de culpa. Na verdade este sentimento é natural em nós, desta forma, e é como uma luz vermelha de um alarme que começa a piscar, às vezes, tão longe que quase não notamos, ou somente nosso inconsciente pontua, e muitas vezes tão perto e em alto grau que quase nos mata de temor.

O problema maior com a culpa é não ser enfrentada e resolvida. Aquela que foi abafada lá no nosso interior mais oculto pode assim mesmo continuar a piscar teimosamente. Nossa dinâmica interna poderá tentar resolver de forma instintual, desabafando o problema em uma ação, por exemplo, digamos, lavar as mãos toda vez que um brilhozinho da luz apareça lá no fundo. Depois de algum tempo estaremos lavando as mãos compulsoriamente, sem motivo aparente, e seremos diagnosticados como portadores de um transtorno obsessivo compulsivo. Houve uma compensação e transferência. É melhor enfrentar. A psicoterapia irá guiar o paciente a descobrir estas luzes de forma consciente e enfrentar seus monstros!

Outra forma de não enfrentar uma culpa bem consciente é racionalizar tanto que chegamos num momento que provamos para nós mesmos que H2O é pedra. Então, depois de anos descobrimos que bebemos brita. Também não dá. É melhor enfrentar.

Quando resolvemos enfrentar a coisa se complica um pouco para descomplicar tudo depois. Ossos do ofício, fazer a ferida doer mais para sarar. Vamos analisar os fatos à luz do sentido de direcionamento moral que nos foi dado na educação que tivemos; mas, e uma pessoa criada entre metralhadoras e pacotinhos de maconha? Temos de rever até o tal do sentido de direcionamento. Para isto precisamos de uma base onde projetar o Super Ego para ver se está dando mancada ou não. Para o cristão eu diria que os ensinos puros de Jesus, não a teologia em si depois e os dogmas feitos pelos homens no passar dos séculos, contém a base para tudo. Vamos então colocar o próprio Super Ego em teste, numa espécie de ajuste, calibrando seus parâmetros. Depois analisemos o que nos é cobrado demais pelos outros, fazendo o desconto; e o que é cobrado demais ou de menos por nós mesmos, fazendo também os descontos. Agora, com uma imagem mais nítida do que é o correto, enfrentemos o tribunal de nossa consciência: errei ou não? Tá bom, errei, pronto. Mas, qual a extensão de meu erro? Qual a intenção que eu possuía na época? Quais os agravantes e atenuantes?

Muito bem, perdôo a mim mesmo por agir fora do alvo. Agora que corrigi o alvo fica mais fácil, pois, quem sabe, eu estava errado até no alvo?

Também terei de enfrentar o outro que foi prejudicado e sabe disto. Se não sabe, não precisa saber de nada, confesso somente a Deus e pronto. Se sabe, precisa ter corrigida sua imagem sobre mim através de minha confissão: errei nisto com você mas não penso mais assim ou não ajo mais assim. Não importa nadica de nada se o outro perdoa a você ou não, você estará em paz consigo mesmo. Não importa também o que o tribunal juridicamente, se for o caso, resolver, perante as leis do país, se for algo criminoso. Por exemplo: Você bebeu muito e atropelou uma pessoa. Depois de se arrepender de fato, de perdoar a si mesmo, de corrigir o rumo de sua vida na intenção de não beber mais antes de dirigir e até depois de procurar a família e dizer que sente muito, assim já estando em paz consigo mesmo, se assim mesmo a família inicia um processo, então enfrente tudo com a consciência tranqüila de que já não tem a culpa moral e espiritual, apesar de ter a culpa legal, ou para a justiça.

Acredito que algumas pessoas poderão estar condenadas a poucos ou muitos anos de prisão, e acabaram por se interessarem em ler este livrinho: o fato de termos boa consciência e nos sentirmos perdoados e em paz conosco mesmos não garante nossa liberdade física, somente a liberdade do espírito. Pode crer, esta última é mais importante, é a que nos faz viver de verdade.

Muitas conseqüências, além do aprisionamento, podem cair sobre a pessoa: divórcio, filho ausente, perda de emprego ou função numa empresa, salário menor, não formar-se ou não conseguir autorização de um conselho regional para exercermos qualquer profissão, por exemplo. Tudo isto são forças contra as quais não podemos lutar, assim como não podemos dizer a um câncer que vá embora, a um infarto que volte atrás. Mas podemos ter a paz de olhar em frente, seguir nossos alvos assim mesmo, olhar o horizonte, ver o caminho traçado por nosso caráter e seguir em frente, sempre em frente, vivendo o máximo que podemos em todas as épocas de nossa vida.

Alguém poderia perguntar como fica o que não crê em Deus. Do ponto de vista da psicanálise esta pessoa deveria sentir-se satisfeita em perdoar a si mesma e ter o perdão da sociedade ou do próximo, quando for o caso, isto é, se for do conhecimento de terceiros. Já o teólogo cristão, tomando uma media do pensamento teológico mais equilibradamente, diria que tal pessoa poderá sentir-se bem consigo mesma e a sociedade quanto aos atos errados praticados e devidamente resolvidos como anteriormente escrevi, mas que teria um sentimento de vazio, não a respeito dos atos externos praticados e sim quanto a sua própria natureza que sentirá paz interna somente quando o perdão geral à humanidade, adquirido na cruz, for aceito por tal individuo e aplicado a si.

III- Terceiro Tipo: a Culpa Neurótica

Agora deu para entender porque deixar esta parte por último; de certa forma já falei de algumas anomalias no assunto culpa. A culpa neurótica, em primeiro lugar, é a que não existe e assim mesmo é cobrada por nós mesmos, atuando muito contra nossa auto-estima e atrapalhando nossa vida no dia-a-dia. O fato de não existir e assim mesmo ser cobrada, não significa que seja apenas de nossa invenção. Pode muito bem ser a culpa imputada por terceiros, pode ser resultado da existência anterior de uma culpa real, exercício de nosso julgamento próprio. O que mais caracteriza a neurótica, no entanto, não é o fato de existir ou não algum fundamento, mas o de tornar-se uma obsessão, fora dos padrões normais de auto-cobranca, tanto quanto à qualidade desta cobrança quanto à quantidade de tempo que perdura.

É muito comum nas pessoas que são perfeccionistas, pois se cobram muito. Estão sempre aquém de seu alvo de perfeição. Todas as desculpas, todas as orações, tudo que se faça não retira a culpa e geralmente acaba por nortear a vida de forma triste. Autocomiseração, auto-estima baixa, vontade de castigar a si mesmo, até de suicidar-se, tudo isto pode ser conseqüência da culpa neurótica. O melhor é buscar ajuda de um profissional e analisar o todo de sua vida, refazendo sua historia e revendo os passos onde foi se formando este tipo de atitude que acabou por ser tão dominante em sua vida.

Ás vezes lidamos com uma culpa real por muito tempo e sabemos que verdadeiramente erramos e, se não procuramos um meio de nos sentirmos perdoados, essa culpa persistirá. Ela não é neurótica por isto. Mas talvez comecemos a nos culpar, a partir dela, de forma muito fora do normal. Por exemplo, se demos uma má resposta a alguém, nos culpamos como se o tivesse matado e isto é um problema de personalidade que deve ser tratado. Por outro lado, por exemplo, digamos que fizemos algo errado e ninguém sabe, somente eu e Deus. Então me corrijo e peço perdão a Deus, até mesmo fazendo o possível para corrigir o erro, se prejudicou a terceiros. Deveria cessar ali o sentimento de culpa. Muitas pessoas não conseguem perdoar a si mesmas, ou, se crêem em Deus, não crêem o suficiente para saber que Ele não mente, e se deixou escrito que perdoaria a todo que se arrependesse de fato e deixasse seu andar errôneo, não vai agir de outra forma. Se o sentimento persiste, mesmo assim, ele já não é mais real, mesmo tendo uma base real.

Temor da conseqüência e culpa são duas coisas diferentes.

Pode ser que você já tenha se perdoado e tenha um novo propósito na vida. Não sente culpa real nem irreal. Já fez as pazes com Deus e com o próximo; já restituiu ou iniciou a restituição, se não pode ser feita logo. Deveria estar em paz consigo mesmo, mas não consegue paz total. Pode ser que você esteja com o natural temor do castigo ou da sanção da justiça.

Se este temor é de ser castigado por Deus, então não tem conhecido o caráter bondoso e perdoador de Deus. Lembremos que Jesus disse: “eu vim para que tenham vida e a tenham em abundancia.” Mas, se o temor é de ser condenado na justiça comum, troque o temor pela luta honesta em tentar usar tudo que a lei possibilitar para ajudar-se e depois de tendo feito tudo, descanse, pois a conseqüência que tiver ainda que não pode ser evitada é como uma doença que chegou. De cabeça erguida enfrente a situação e viva.

Se estiver com medo de alguma enfermidade, faça os exames, enfrente e depois viva em paz.

Se estiver com medo dos homens e sua injustiça, se vê que não há misericórdia, lembre que é assim com a maior parte, nas mãos dos criminosos, dos falsos moralistas, dos corruptos e é algo que existe no mundo real, não podemos deixar de sofrer suas conseqüências, mas podemos, dentro do que for possível a nós e nossa consciência, lutar para atenuar estas conseqüências e nos engajar no alvo de lutar contra esta corrupção de alguma maneira, fazendo uma pequenina parte, seja qual for que consigamos fazer.

Se acha que será reincidente, não tendo forças para sair do tráfico, da promiscuidade ou da corrupção de colarinho branco, sabendo que assim não se livrará da culpa também, procure ajuda; olhe ao seu lado, sempre há onde buscar ajuda, nós é que não vemos; sempre há portas abertas, sempre há uma esperança!

Quanto a persistir a culpa neurótica, caso você, enfim, não pode mesmo procurar psicoterapia, então faça pelo menos o seguinte:

1. Tome conta de que há fatores reais e outros não reais no aspecto da culpa.
2. Procure seguir os passos que foram sugeridos nos outros dois tipos de culpa.
3. Separe o sentimento de culpa do temor da conseqüência, são duas coisas diferentes. Dê nome aos bois, escreva.
4. Se possível tenha um diário onde escreva o que é e não é real para você. E releia sempre.
5. Escreva seus sonhos e depois de algum tempo tente relê-los e analisar o que tem ali de comum, que pode ajudar na visão do todo de sua vida.
6. Se você chegou até aqui é porque gosta de ler; compre outros livros, leia.


Mas lembre-se:

A- O tratamento da culpa real é a busca do perdão.
B- O tratamento da culpa imputada por outros é a libertação do olhar do outro.
C- O tratamento da culpa neurótica é a psicoterapia.

Depois não diga que não avisei.

Felicidades.